ANTEPROJETO DE PESQUISA
TEMA: MERCADO DE TRABALHO
E ECONOMIA INFORMAL NO NORTE FLUMINENSE: Análise da informalidade no centro de
Campos dos Goytacazes
DELIMITAÇÃO DO TEMA
A pesquisa a ser realizada volta-se
para uma análise do Mercado de Trabalho e Economia Informal na Região Norte
Fluminense, tendo como objeto privilegiado, o comércio do centro de Campos dos
Goytacazes a partir de 1998, investigando a relação entre Estado, Economia e
Sociedade na configuração desse mercado de trabalho.
Há poucos dados sobre o trabalho informal[1]
fora das grandes metrópoles[2].
A informação disponível sobre o trabalho e o mercado de trabalho origina-se na
RAIS/MT (Relação Anual de Informação Social do Ministério do Trabalho) que
fornecem dados oficiais sobre o emprego, ou nos sensos nacionais[3],
cujos dados ficam rapidamente defasados. Há que frisar, contudo, que Campos dos
Goytacazes e a região norte fluminense possuem um volume considerável de
informação quando considerada a caracterização econômica e as transformações que
atravessa[4].
Cabe destacar que o conceito de
setor ou economia informal, apresenta dificuldades empíricas e teóricas, pela
imprecisão dos fenômenos que define e por estar marcado por uma história de
críticas e mudanças de significado. Seu uso, corrente, continua sem definir,
com clareza o que é: rotula indistintamente práticas econômicas confusamente
percebidas. Passa ao largo, também, de um dos aspectos mais importantes do
antigo debate: a relação da economia informal com a estrutura social, com a modernização
e com a urbanização. Por este motivo, torna-se necessário articular as
contribuições provenientes desde a Geografia e a sociologia com o pensamento
contemporâneo.
Percebe-se que é elevado o
número de trabalhadores informais no Brasil, bem como em toda a América Latina,
sendo necessário compreender as relações envolvidas neste processo e as
possíveis implicações sobre o mercado de trabalho como um todo.
De
um modo geral, pode-se dizer que abordar a questão do trabalho se constitui num
grande desafio, pois, de um lado, ele é
uma categoria geral e abstrata – o auto
fazer-se da humanidade – e por outro, é uma categoria histórica atual, que se
relaciona com o capitalismo, o Estado e a sociedade moderna. Neste último caso
pode ser considerada uma categoria em crise (OFFE,1989; ANTUNES, 1998 ;CASTEL,
1998)
Num
grau maior de abstração pensar o trabalho é falar das atividades humanas destinadas
a garantir a própria sobrevivência. Nesta abordagem clássica os homens
constroem por esse labor seus meios de vida e a reproduzem de forma
determinada, como sujeitos históricos (MARX, 1984).
Pode-se considerar que em toda
sociedade, o trabalho constitui uma forma de criação de valores-de-uso indispensável
para a existência humana. As formas modernas de cooperação são
analisadas por Marx (1982) a partir de duas
dimensões. De um lado, a divisão social do trabalho, os mercados e todas as
formas de articulação/organização entre os homens e os grupos, para
beneficiar-se da riqueza produzida coletivamente e de outro, a divisão técnica
do trabalho.
Partindo do contexto da metamorfose,
porque passa o mundo do trabalho, convém abordar o pensamento de Castel (1998).
Segundo o qual, na medida em que o trabalho assalariado perde sua força como
medida de proteção social que integra (nivelação pelo salário), percebe-se uma
heterogeneidade do mundo do trabalho atual, manifestada sobretudo, pelo
crescimento do desemprego. Na ótica de Castel (1998), pode-se dizer que emerge
uma nova questão social[5].
A sociedade salarial
é sobretudo uma sociedade, na qual, a maioria dos sujeitos sociais têm sua
inserção social relacionada ao lugar que ocupam no salariado, ou seja, não
somente renda mas, também, seu status, sua proteção, sua identidade ( CASTEL,
1997, p. 169).
O
enfraquecimento deste arranjo, acarreta problemas às políticas de proteção
social. Golpeadas pelo desemprego, deixam de se basear em aspectos como a
integração para tratar de inclusão, sobretudo de pequenos grupos (portadores de
necessidades especiais, mulheres, os desempregados e subempregados) que não
serão reabsorvidos pelo mercado, ou seja, o desemprego, que antes era uma
exceção, passa agora a ser algo comum.
A
nova questão social parece ser atualmente o questionamento da função
integradora do trabalho na sociedade. Seria uma desmontagem do sistema de
proteções e garantias que foram vinculadas ao emprego e uma desestabilização, a
princípio da ordem do trabalho, que acaba
tendo efeitos em várias esferas da vida social.
No
caso brasileiro, não chegamos a ter uma cidadania salarial completa, mas
chegamos a uma crise da sociedade salarial, tal fato pode ser constatado pelo
aumento e difusão da informalidade sob as mais diversas formas, impulsionada,
dentre outros, pela grande onda de desemprego e flexibilização das relações
trabalhistas.
A sociedade contemporânea,
particularmente nas últimas décadas, presenciou transformações significativas.
Para Harvey (1992), elas são visíveis, não apenas nos processos de trabalho
como também no modo de regulação.
A
partir da década de 70 começou a se formar um novo arranjo econômico, político
e social (Modo de regulação). Essa mudança pode ser pensada como uma estratégia
do capital buscando retomar o controle social e
recuperar a rentabilidade econômica, capaz de sustentar um longo
período de crescimento econômico
( regime de acumulação) depois que a crise do petróleo evidenciou uma crise
estrutural do capitalismo . Tais transformações de um lado, propiciaram a
retomada do controle social do capital, em virtude do processo de fragmentação
da classe trabalhadora e da desvalorização da força de trabalho, e por outro,
criaram limites à acumulação, as quais foram precariamente contornadas por intermédio da ampliação da acumulação em
bases financeiras.
Todo esse processo levou ao crescimento
econômico e expansão do setor terciário (HARVEY, 1992). Houve ainda um
enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão-de-obra
excedente, que se divide em desempregados e subempregados, a partir dos regimes
e contratos de trabalho mais flexíveis. O autor considera que o crescimento de
economias ‘negras’, ‘informais´ ou ´subterrâneas´ -documentado em todo o mundo
capitalista avançado - leva muitos a detectar uma crescente convergência entre
sistemas de trabalho “terceiro mundistas” e “capitalistas avançados”.
Ao
se tratar de trabalho informal a partir dos anos 1980, por exemplo, percebe-se
que não somente diminui o emprego nas grandes empresas, mas reduz-se o peso do
emprego formal como um todo (Tavares, 2006). Tanto ideológica como politicamente,
os assalariados “precários” das grandes firmas e de suas empreiteras vão
aumentar as fileiras dos trabalhadores das micro-empresas (assalariados), dos
biscateiros e dos desempregados. Numa visão mais abrangente sobre as diversas
mudanças ocorridas no mercado de trabalho, pode-se dizer que aos benefícios da
flexibilidade são adicionadas às vantagens das atividades desregulamentadas,
permitindo, dessa forma, uma redução dos custos do trabalho e o conseqüente
aumento da rentabilidade do capital.
Os postos de trabalho
apresentam crescimento, entretanto, cresce o setor informal, composto por
empregados sem carteira assinada e trabalhadores por conta própria; ou seja, o
mercado de trabalho conseguiu gerar novas ocupações, mas com outros tipos de
relações de trabalho, como alternativas para a estagnação da economia formal,
que não mais consegue absorver a mão-de-obra disponível (MELO, 2000, p.3).
A
“informalidade” parece assumir um lugar importante na configuração atual dos
mercados de trabalho. Contudo, quanto mais corriqueiro é o uso desta noção,
mais difícil parece ser o acordo entre as várias concepções do termo.
O
conteúdo do conceito de ‘setor’ ou ‘economia informal’ mudou drasticamente, a
partir dos anos 80: considerado efeito do atraso econômico ou
subdesenvolvimento a ser combatido pelas políticas púbicas, é tratado
atualmente como fator de desenvolvimento, gerador de trabalho e renda. Nunca a
economia informal foi tão discutida como na última década: mencionada ao falar
do desemprego, das formas contemporâneas de organização do trabalho e da
desregulamentação do mercado.
Esta
mudança, contemporânea à reestruturação produtiva, à liberalização e
flexibilização da legislação trabalhista (neoliberalismo, globalização),
coincide com a atribuição de uma nova causal à economia informal: a
regulamentação estatal do mercado. Sustenta-se aqui a necessidade de se
considerar a regulação social, como fator importante ao se compreender a
configuração dos mercados de trabalho. Esta postura implica uma abordagem
qualitativa da questão, mediante operação de projetos, táticas e estratégias
dos sujeitos sociais, mais facilmente detectáveis, levando-se em consideração
as trajetórias, representações do trabalho e contextualizações, que permitam
compreender a relação entre economia, políticas públicas e mercado informal de
trabalho.
O conceito de economia informal, não se limita a trabalho
assalariado não-registrado (trabalho informal), ou a pequenas empresas não
legalizadas, nem tampouco a diversas
atividades precárias desenvolvidas por conta própria (setor informal).
De modo geral e em sua acepção mais recente, a economia informal é tomada como
algo “não-legal”, que não está devidamente registrado como atividade econômica.
Há, contudo, casos em que a “economia formal” abre postos de trabalho como
acontece com algumas empresas registradas, em que parte de seus trabalhadores
não possuem carteira assinada.
O
conceito de informalidade é muito utilizado pelas ciências sociais e econômicas
brasileiras, e se refere a vários fenômenos.
No Brasil, o
entendimento popular de “trabalho formal” ou “informal” deriva da ordem
jurídica. São informais os empregados que não possuem carteira de trabalho
assinada. Até as recentes mudanças introduzidas no governo FHC, o contrato por
tempo indeterminado previsto na CLT era praticamente a única opção disponível
para as empresas do setor privado
(NORONHA, 2003, p.112).
A
legislação brasileira prevê os contratos em tempo parcial, contratos
específicos para as pequenas empresas e contratos temporários. Noronha (2003)
ressalta que os diversos tipos de contratos “informais” são opostos ao formal,
desde os claramente ilegais até outros tipos de contrato, em que seu estatuto
legal se encontra em disputa, como é o caso das cooperativas e dos contratos
terceirizados.
A informalidade recebe portanto, vários
tratamentos, que vão desde os que a consideram como uma salvação diante da nova
economia àqueles que a vêem como uma grave ameaça social. Neste sentido, vários
autores (Mamani, 2004; Machado da Silva, 2003, dentre outros) apontam, que a noção de setor informal foi enunciado pela
Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1972 refletindo a preocupação,
por parte de economistas dos órgãos internacionais, com os limites da
modernização e do desenvolvimento nos países periféricos, em cujos mercados de
trabalho conviviam tanto atividades modernas como tradicionais, constituindo-se
estas últimas em obstáculos à modernização. A solução envolveria a superação da
pobreza e a eliminação dos entraves ao desenvolvimento econômico, por meio da
supressão de setores e práticas econômicas não modernas. O conteúdo do conceito
de economia informal sustenta-se numa concepção dualista da economia nos países
periféricos.
Conforme já
foi dito em linhas anteriores, a imprecisão do termo “informalidade” torna necessário
articular as contribuições provenientes desde a Geografia e a sociologia com o
pensamento contemporâneo. No caso da geografia, pode-se utilizar como base o
pensamento de Milton Santos, que aborda economia informal mediante a teoria dos
circuitos.
O termo “circuito” denomina a economia que se
forma a partir da segmentação e da diferenciação sócio-econômica metropolitana
e regional, que constitui uma rede de cooperação de extensão e localização
variáveis, abrangendo a produção, o financiamento, a distribuição e
comercialização. Relaciona tanto os consumidores - avaliados segundo seu poder
de compra e tipos de necessidades - quanto os tipos de trabalhadores, sua renda
e qualificação; as empresas e os empresários, segundo o tamanho e
características técnicas e organizacionais, os modos de financiar-se e as
características das relações de trabalho e produção, conforme se aproximem ou
distanciem das relações monopolistas. Portanto, cada circuito é definido tanto
pelo “conjunto das atividades realizadas” e pelo “setor da população que se
liga a ele essencialmente pela atividade e pelo consumo”[6].
Diante
de toda a discussão apresentada, pode-se afirmar que a reestruturação produtiva
corresponde, também a uma reestrutração sócio-espacial, a uma nova divisão
regional do trabalho, na qual a política, ou melhor, as diversas instâncias
estatais, concorrem na promoção dos lugares e constituição de condições
propícias para promover sua rentabilidade. O uso o termo ‘políticas públicas’ é feito para destacar as ações governamentais
que visam à promoção da rentabilidade regional e a atração de investimentos,
considerando que contribuem para a estruturação dos mercados regionais de
trabalho. Por outro lado essas políticas estatais e econômicas promovem uma
reordenamento das práticas sócio espaciais, segundo uma nova hierarquia, no
caso, novos circuitos.
Ao
se analisar a economia regional a partir da perspectiva de Carvalho & Totti
(2004) pode-se tratar os fenômenos sócio-econômicos em seu contexto espacial.
Considerando que, como a população e as atividades econômicas não se distribuem
de forma homogênea no espaço, há tendência é de que alguns lugares se destaquem
por sua maior concentração econômica e demográfica, desempenhando o papel de
pólos de desenvolvimento ou lugares centrais. Tal como pode ser notado na
citação abaixo:
A idéia de fundo de
fundo é a de que as atividades econômicas e a população tendem a se concentrar
em alguns lugares centrais que vão desempenhar o papel de pólos regionais de
desenvolvimento. A estrutura espacial de qualquer território geográfico é
caracterizada por uma organização hierárquica de centros que se acham
estreitamente inter-relacionados e que possuem uma racionalidade funcional
baseada em princípios de complementariedade.” (CARVALHO ;TOTTI, 2004, p.286)
Assim,
há uma estrutura hierárquica onde algumas cidades se destacam como “centros” ou
“pólos” e no caso da região Norte Fluminense, destaca-se Campos dos Goytacazes.
Para Randolph (1986) ao se considerar a
localização do Norte Fluminense em um âmbito territorial abrangente, seria
chamada de “periferia central” do Sudeste. Tal expressão usada pelo autor se
justifica pelo confronto entre os padrões de crescimento e desenvolvimento
entre ela e o suposto centro de acumulação brasileira, que era São Paulo.
A
economia da região vem sendo descrita como estagnada e obsoleta, onde
predominam as pequenas empresas, cuja estrutura produtiva não propicia a
inovação tecnológica e organizacional. Possuem baixo grau de concorrência e
produzem, mesmo, para um mercado local. Campos, não obstante, é famosa
nacionalmente por denominar a bacia petrolífera, cujo centro de expansão fica,
em Macaé.
De
acordo com Silva & Carvalho (2004) a base da formação social e econômica do
Norte Fluminense foi definida em torno da produção de açúcar, a partir da
articulação dos grupos sociais, sendo eles a aristocracia rural, que eram os
senhores de engenho, no período imperial, chamados barões do açúcar, uma nova
burguesia mercantil, que era responsável por realizar intermédios comerciais e
financeiros, o clero, que exercia grande influência no contexto sócioeconômico
da região e os negros africanos, que
foram a mão-de-obra empregada no processo produtivo até o final do século
XIX.
As
primeiras atividades desenvolvidas no Norte Fluminense, contribuíram para a
formação sócio-econômica da região, sendo elas, principalmente a
cana-de-açúcar, o café e a pecuária (gado de corte e de leite). A independência
do Brasil, ocorrida em 1822 provocou
transformações na estrutura de Campos dos Goytacazes. Começou a haver uma forte
demanda pelo aumento da produção de cana-de-açúcar na região.Chama atenção o
fato de que desde o século XIX , já se destacava como uma área central diante
das áreas vizinhas. Contextualizando
a realidade atual, cabe remeter à década de 80, conforme Cruz ( 2004), embora nesta década, a
extração de petróleo tenha gerado um elevado número de empregos no início de
suas atividades, não trouxe grandes impactos, visto que se restringia à Macaé e
seu entorno.
A
partir da década 70, o contexto da terceira revolução industrial, globalização
financeira e liberalização do comércio mundial, se deu paralelamente com a
evolução socioeconômica da região Norte Fluminense. Ocorre um novo patamar
tecnológico, houve a inserção de tecnologias na produção de cana o que ampliou
bastante a produtividade do trabalho.
Entre os censos de
1970 e 1980, a
microregião açucareira de Campos apresentou taxas de crescimento populacional
extremamente baixas, ou mesmo negativas para alguns de seus municípios
componentes, o que permitiu a qualificação da região como área de evasão
populacional acentuada. ( MENDONÇA, 1986, p.105)
De
acordo com Mendonça (1986) tal processo de evasão se deu ao lado de dois fenômenos importantes: a expansão do
emprego urbano regional e o fato desta expansão ter-se realizado como expansão
do trabalho informal.
Com efeito, a
expansão do emprego urbano na região no período assinalado, deu-se a partir de
uma passagem da ordem descrescente de empregos, Agricultura-serviços-indústria.
Não só foram criados 21.565 novos postos de trabalho no setor de serviços
(comércio, transportes e comunicações incluídos) e outros 20.017 postos na
indústria, como, no mesmo período de tempo desapareceram 11.098 postos de
trabalho na agricultura. A extinção de oportunidades de emprego nas áreas
rurais parece ter sido tão importante quanto a expansão destas oportunidades na
área urbana para a montagem de um novo perfil regional de emprego ( MENDONÇA,
1986, p. 105).
Entre
as décadas de 70 e 80 a
região foi marcada portanto, pelo êxodo rural. Segundo Cruz (1986), embora o
trabalho rural tivesse um grande peso entre os moradores pobres da cidade, o
maior contingente urbano estava relacionado às atividades do setor de comércio
e serviços, tal como se vivenciava na maioria das cidades brasileiras, havendo
o que o autor chama de “inchaço do terciário”.
No entanto, chama
atenção o índice das pessoas ocupadas não registradas, que poderia configurar o
“setor informal”, a “economia invisível”, “ os clandestinos”, ou os
“subempregados”. Na época detectou-se ao todo 12.630 pessoas subempregadas. Os
trabalhadores autônomos registrados constituíram um número bastante reduzido ( CRUZ, 1986, p.33).
Sendo
assim, pode-se compreender que a informalidade não é um fenômeno novo ou
próprio da década de 90 para a realidade campista, sua propagação já era
bastante notável na década de 1980, no entanto, os “chamados Biscates” ocorriam
sobretudo em atividades relacionadas ao trabalho rural (cana-de-açúcar), aos
serviços domésticos e construção. Diferente de “hoje”, em que está havendo uma
expansão cada vez maior de atividades informais ligadas ao comércio, sobretudo
no centro da cidade.
De um modo geral, o que se pode observar é que o crescimento da economia
informal acaba sendo relacionado ao
desemprego e pobreza. O que nos leva as seguintes indagações: É possível
sustentar este argumento em Campos dos Goytacazes? Tal argumento aplica-se por
igual a todas as atividades e cidades independentemente de sua localização e
história? Qual é a relação entre as políticas municipais e as mudanças no mundo
do trabalho?
Partindo de
uma análise abrangente sobre a economia informal, busca-se compreender de forma
particular o comelódromo, considerado aqui como “mundo dos pequenos negócios” e
o seu entorno, que juntos compõe o comércio informal do centro da cidade, bem
como as estratégias e regulação envolvidas no trabalho dos camelôs organizados
neste “Shopping popular”. Buscando assim, responder a estas e outras questões
que possam ser levantadas ao longo da pesquisa.
JUSTIFICATIVA
Do ponto de
vista prático, a pesquisa justifica-se pela possibilidade de fornecer
informação sobre a economia e os mercados informais de trabalho em áreas e
regiões onde os estudos convencionais não alcançam, contribuindo, assim, com um
maior conhecimento das relações envolvidas, e para dar sustento a políticas
mais adequadas. Pretende-se produzir informação capaz de fornecer um quadro
ordenado sobre o trabalho informal e suas relações na região.
Tal abordagem é de grande relevância não
somente pelas informações e análises que serão disponibilizadas acerca da
economia local, mas também pela possibilidade das mesmas estarem contribuindo,
para a formulação e implementação de políticas públicas por parte do governo
municipal, que venham proporcionar melhorias nas condições de trabalho e
segurança dos trabalhadores “informais”.
A
pesquisa proposta seria uma continuidade do projeto de iniciação cientìfica desenvolvido
na UFF- Campos (2006-2008), intitulado: Economia informal, Mercado de Trabalho
e Políticas Públicas no Norte Fluminense e relaciona-se diretamente com a área
na qual pretendo iniciar o mestrado, já que visa caracterizar a economia e os
mercados do comércio informal priorizando a compreensão de suas práticas, com
uma perspectiva espacial. Esta abordagem difere de outras correntes, por não se
tratar de uma sondagem quantitativa, mas de uma problematização espacial e sociológica.
Utilizando-se de inúmeros recursos num campo considerado econômico e espacial.
OBJETIVOS
Objetivo geral
Estudar
a problemática da regulação na configuração do mercado de trabalho e sua
relação com o trabalho/ economia informal, tendo como objeto o comércio do
centro de Campos dos Goytacazes e sua região de influência a partir de 1998.
Objetivos específicos
·
Analisar
a atual conjuntura do mercado de trabalho diante das mudanças contemporâneas `a
reestruturação produtiva;
·
Caracterizar
o mercado de trabalho no comércio de Campos dos Goytacazes;
·
Caracterizar
e mapear a distribuição e hierarquização da economia informal no comércio de
Campos;
·
Identificar
as especificidades do comércio desenvolvido no interior do “camelódromo” ( Shopping popular);
·
Determinar
redes sociais e relações que as estruturam;
·
Identificar
e tipificar estratégias e táticas;
·
Identificar
as representações e valores que orientam as ações.
METODOLOGIA
Meio exploratório e pesquisas
bibliográficas
- Baseando-se na leitura de obras
referentes à economia, geração de emprego e renda e mercado de trabalho. Em
termos teóricos o tema será abordado mediante os seguintes eixos
analíticos: Relaciona-se, primeiro, as problemáticas da reestruturação
produtiva, do trabalho e da questão social. Atribuindo-se uma atenção particular para os auges e declínios da
economia na região Norte Fluminense, na qual Campos dos Goytacazes se
destaca como pólo regional. E em seguida, desde uma perspectiva
geográfica, tratar da economia informal relacionada aos conceitos de modernização
e à teoria dos circuitos da economia urbana e regional, para depois
articular a mesma questão à problemática dos mercados de trabalho e da
reprodução social, utilizando também uma análise sociológica relacionando
ao pensamento contemporâneo.
Pesquisa
documental e estatística
- Com base em informações e indicadores
sobre a economia regional a partir de informações de órgão oficiais de estatísticas
e notícias da imprensa. Visando identificar a configuração produtiva,
conjuntura econômica e taxa aproximada de desemprego na economia regional.
Observação
- Outro método utilizado refere-se à
observação direta e participativa, identificando a localização dos
camelôs, as relações, tipo de atividades, produtos vendidos, bem como,
grau de legalidade, problemas e conflitos entre os agentes envolvidos.
Entrevistas
- Entrevistas
semi-estruturadas e não estruturadas, visando caracterizar as trajetórias
ocupacionais, a origem, a escolaridade, relação com mercado formal e
expectativas. Quanto ao tipo de atividades, tipo de produto, localização,
grau de legalidade, rentabilidades, vantagens, problemas e conflitos,
formas de articulação, organização politização.( ex. Pirataria e
concorrência)
Tratamento dos dados
·
O tratamento dos
dados deverá ser feito através de contextualizações
e presentificação, bem como análise
comparativa. Cabe destacar ainda a utilização da história Oral,
usando as entrevistas para recompor trajetórias profissionais de modo a
identificar critérios que norteiam a ação e trajetórias ocupacionais táticas, Sendo feito ainda, um mapeamento da
informalidade no centro de Campos dos Goytacazes, indicando os principais
pontos de venda e localização deste comércio.
CRONOGRAMA
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MÊS
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Atividades
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11
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12
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Pesquisas Bibliográficas para Embasamento Teórico
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Estudos Empíricos de Constituição de Bancos de Dados e Informações
Sistemáticas sobre o Mercado Informal de trabalho e regulação social
vivenciada em Campos dos Goytacazes e sua área de abrangência
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Saídas de campo no centro de Campos dos Goytacazes para levantamentos de dados através de
formulário e entrevistas. Com observação do espaço para início do mapeamento.
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Estudo sobre o conceito de mercado informal com suas similitudes e
diferenças em relação ao mercado formal, atentando para as peculiaridades da
área estudada.
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Análise e divulgação dos resultados
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Obs: O cronograma refere-se
apenas a uma parte do curso.
SUMÁRIO
O
trabalho poderá ser estruturado a partir da divisão em dois capítulos. No
primeiro, fazer um estudo da categoria
Trabalho a partir da relação Estado, economia e sociedade, fazendo uma
abordagem ampla de seu sentido clássico, utilizando-se dentre outros de Marx e
Enges, e tratando da polêmica de sua centralidade numa discussão pautada em
Offe, Antunes e Castel.
Visando
abordar as grandes transformações ocorridas no mercado de trabalho nas últimas
décadas, poderá ser feito um apanhado de todo o contexto que envolve a
globalização, neoliberalismo e reestruturação produtiva, bem como, seus
impactos sobre o mercado de trabalho. Atribuindo-se uma atenção particular para
os auges e declínios da economia na região Norte Fluminense, na qual Campos dos
Goytacazes se destaca como pólo regional. Busca-se situar todo o contexto, a
partir do qual se deu um novo trato para a “economia informal” que será
discutida no capítulo dois, bem como abordar as antigas práticas econômicas
vivenciadas no município estudado.
No segundo capítulo, se buscará focar a
questão da informalidade em Campos dos Goytacazes. Para tanto será necessário,
fazer uma análise teórica e conceitual acerca do temo, já que lhes são
atribuídos vários sentidos, havendo falta
de clareza, dentro do próprio debate acadêmico, o que se agrava quando se trata das políticas (públicas e
privadas) de geração de trabalho e renda.
Partindo
de uma análise abrangente sobre a economia informal, buscarei compreender de
forma particular o comelódromo, considerado aqui como “mundo dos pequenos
negócios”, bem como as estratégias e regulação envolvidas no trabalho dos
camelôs organizados neste “Shopping popular”, produzindo informações capazes de
fornecer um quadro ordenado sobre o trabalho informal no município e a
regulação social estabelecida.
REFERÊNCIAS
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metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 5 ed. São Paulo: Cortez,
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CARVALHO, Ailton Mota de; TOTTI, Maria
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[1] Chamo trabalho informal
indiscriminadamente ao trabalho por conta própria, ao trabalho assalariado não
registrado, a formas precarizadas de trabalho como os biscates e os bicos, aos
pequenos empreendimentos econômicos que não usam trabalho assalariado ou outras
formas de trabalho como cooperativas ou familiares.
[2] No caso do município de Campos, pude
localizar até o momento um único estudo recente relativo ao comércio de rua da
área central. Ver Lemos (2001).
[3] Apenas o tratamento dos microdados alguma
informação a respeito do assunto.
[4] Contrasta com outras cidades médias da
rede Urbana do Rio de Janeiro, como Juiz de Fora em Minas Gerais onde não
há o mesmo volume de informação. Há inclusive os Boletins Técnicos - editados
pelo Observatório Socioeconômico, projeto do Consórcio Universitário de
Pesquisa da Região Norte Fluminense formado pelas seguintes instituições de
nível superior: CEFET, UENF, UFF, UFRRJ, UNIVERSO - que aborda o tema com bastante
aprofundamento bem como estudos econômicos sobre as cadeias produtivas locais.
[5] Diferentemente da dita “velha questão
social”, que se referia ás questões dos trabalhadores, sobretudo operários das
indústrias. A nova questão social, tal como trata Castel (1998), estaria
voltada para a apartação, desigualdades, exclusão, dentre outros.
[6] Santos, 1979. p. 33
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