quarta-feira, dezembro 14, 2011


CONTEXTO ENERGÉTICO SUL-AMERICANO: OS CAMINHOS DA INTEGRAÇÃO REGIONAL

CONTEXTO ENERGÉTICO DE AMÉRICA DEL SUR: EL CAMINO DE LA INTEGRACIÓN REGIONAL

Luane Rubim Machado*
Diego Morett Ferreira**

Resumo

O presente trabalho visa analisar os limites e possibilidades de integração regional na América do Sul, amplamente disseminada desde o início da década de 1990, a partir do setor energético, um fator de grande importância para as projeções políticas e comerciais que culminaram na formação do MERCOSUL. A  “globalização e integração” passam a ser vistos como tendências de fundo das relações internacionais, ambos contribuindo para colocar em foco, o Estado Nacional como força profunda. A fim de se delimitar o tema abordado, é feito um estudo, acerca da política energética brasileira na América do Sul, analisando de forma particular a relação Brasil-Bolívia a partir do abastecimento de gás-natural, tendo em vista que a construção do gasoduto visava uma possibilidade de integração entre os dois países, que foi ameaçada, a partir da nacionalização de hidrocarbonetos feita pelo atual presidente Evo Morales.

Palavras – chave: integração- América do Sul – energia -  Bolívia





Resume

Este estudio tiene como objetivo examinar los límites y las posibilidades de la integración regional en América del Sur, generalizada desde principios de 1990, desde el sector de la energía, un factor de gran importancia para la política comercial y los proyectos que culminaron en la formación del MERCOSUR ."La globalización y la integración" se verá como las tendencias en el fondo de las relaciones internacionales, tanto ayudar a poner en el punto de mira, el Estado Nacional como una profunda energia.Con el fin de delimitar el tema, se realiza un estudio acerca de la política brasileña de energía en América del Sur, en particular el examen de la relación de la Brasil-Bolivia del suministro de gas natural, desde la construcción del oleoducto destinadas a una posibilidad de integración entre los dos países, que fue amenazado, a partir de la nacionalización de los hidrocarburos por el actual presidente Evo Morales.


Palavras – chave: integración -  América del Sur – energía -  Bolívia





















INTRODUÇÃO

Dentro do atual contexto de conflitos e crises em torno do abastecimento de petróleo e gás natural, a questão energética se apresenta como vital para todos os países da América do Sul, sejam eles grandes ou pequenos produtores e grandes ou pequenos consumidores. O setor energético é de suma importância para a sociedade, visto que são inúmeras as atividades vinculadas à geração, transmissão e comercialização de energia, sendo até mesmo considerado o sustentáculo do desenvolvimento nacional.
A América do Sul se constitui numa região do mundo de alto potencial de integração, o que se confirma a partir das razões abordadas por Herz (2004): como a geografia continental, cultura e línguas comuns ou muito próximas, baixa rivalidade interestatal e alto potencial energético. Neste último plano, em particular, se destacam gás, petróleo, hidroelétrica e biocombustível, cujo aproveitamento, depende parcialmente de processos de integração da infra-estrutura e economia.
Os processos de integração estão situados no contexto da globalização, que teve seu marco a partir da Segunda Guerra Mundial, com a existência definida de uma ordem bipolar global, que implicava simultaneamente, um conflito de sistemas (capitalismo versus comunismo). No entanto a partir da década de 90 “globalização e integração” passam a ser vistos como tendências de fundo das relações internacionais, ambos contribuindo para colocar em foco, o Estado Nacional como força profunda.
Para uma análise do contexto energético sul-americano, tornou-se necessário destacar algumas questões ligadas aos processos de globalização e regionalização, bem como suas implicações sobre a realidade da paisagem energética sul-americana. Tomamos portanto, este setor como um possível pilar de integração regional e a política externa brasileira como importante condutora neste processo.
A fim de se delimitar o campo de estudo, é feita uma análise  da relação Brasil-Bolívia a partir da construção do Gasoduto Gasbol como parte de uma possível ação estratégica regional brasileira, visando suprir sua necessidade de importação de gás natural e ainda, uma maior integração entre os dois países, sendo a mesma, ameaçada pela nacionalização de hidrocarbonetos feita pelo atual presidente Evo Morales.

1- Apontamentos acerca dos fenômenos da  “globalização” e “integração”

            Durante a Guerra Fria, a política americana foi fundamentada numa defesa incondicional contra a ameaça das potências, apoiando qualquer regime contrário ao comunismo no resto do mundo, seja em ditaduras ou democracias. Com isso os EUA se aliaram predominantemente com as ditaduras de várias partes do globo, entre os fins das décadas de 1940 e 1970. Particularmente na América Latina, estiveram apoiando diversos golpes militares. Esta aliança dos EUA com regimes autoritários explica, em parte, o antiamericanismo de diversos países latino-americanos nos dias de “hoje”.
            Os processos de integração estão situados no contexto da globalização, que teve seu marco a partir da Segunda Guerra Mundial (LEIS, 2007).  A década de 1950 começou com a existência definida de uma ordem bipolar global, que implicava simultaneamente, um conflito de sistemas (capitalismo versus comunismo) e um conflito interestatal entre superpotências (EUA versus União Soviética).
A partir de suas análises, Cervo (2007) considera que os integracionalistas, que buscavam compreensão para a transição da ordem internacional da Guerra Fria, em direção às questões internacionais dos anos 1990, insistiram sobre o fenômeno da globalização, mas o aproximavam de outro fenômeno, a integração, visto que se estabelecia uma espécie de disputa entre ambos, na suposição de que dessa disputa haveria de resultar o equilíbrio no controle da ordem. De todo modo, esses dois fenômenos eram vistos como tendências de fundo das relações internacionais, ambos contribuindo para colocar em foco, o Estado Nacional como força profunda.
            Dentro desta ótica, Cervo (2007) trabalha suas reflexões em torno de duas idéias centrais. Na primeira, analisa as duas tendências das relações internacionais de 1990 aos nossos dias, sendo elas, a globalização e integração, e o papel que desempenham os Estados Nacionais nesse contexto, tomando nexo entre tais fenômenos na América do Sul, à luz das experiências históricas regionais, com o fim de estabelecer modelos para análise das relações internacionais da região. Considera ainda que a explosão das torres gêmeas em 2001 não abalou apenas os Estados Unidos, mas pela importância que lhe atribuiu a primeira potência global, tornou-se problema de todos.

A experiência neoliberal da América Latina foi tão desastrosa, que revelou a ideologia sobre a qual se fundava a crença de intelectuais e políticos acerca da capacidade ilimitada do mercado, em prover o desenvolvimento e o bem-estar e até mesmo, o fortalecimento econômico. Por outro, a crise do multilateralismo, que também reverteu a tendência de reforçar a globalização por meio de instituições, regimes e ordenamentos universais no campo do comércio, das finanças, da segurança, dos direitos humanos, do meio ambiente etc. (CERVO, 2007, p. 3)

A América do Sul se encontrava deteriorada no que se refere às suas condições sociais e econômicas provocadas pelas experiências neoliberais. Foi nesse contexto que houve o retorno da importância do Estado Nacional, que por sua vez, encontrou condições favoráveis no ambiente internacional.
O território sul-americano, contudo, não apresenta unidade de conduta em termos de política exterior ou modelo de inserção internacional no século XXI, como tivera na última década do século XX. Não se situam da mesma maneira no contexto da globalização, e este aspecto deve ser levado em conta no momento de se definir as estratégias e metas da política externa brasileira.
Soma-se a isso, um fato destacado por Leis (2007), considerando que a partir da perspectiva da atual globalização, a América do Sul se apresenta como uma região em relativo declínio, especialmente quando seus países são comparados com o desenvolvimento de outros, que possuem condições sócio-econômicas semelhantes, estando situados na Ásia e no Leste Europeu.
Para compreender a dinâmica da América do Sul é necessário partir de uma análise da evolução dos países, na perspectiva de avaliar o quanto, eles se aproximaram dos pressupostos da democracia e da economia de mercado. A experiência internacional mostra, também, que esses pressupostos se constituíram em poderosas ferramentas para o crescimento econômico dos países que os adotaram e consolidaram, revelando ainda, que esses pressupostos são fundamentais para que sejam bem sucedidos os esforços de integração regional.
Segundo Galvão (2007) a organização de um espaço sul-americano deverá passar por uma integração energética, como houve na Europa das décadas de 1950 e 1960, depois do marco da democracia, este seria o fator mais importante de aproximação entre os países sul-americanos. Devendo buscar-se ainda a criação de esforços multilaterais e formulação de iniciativas regionais como a União Sul-americana e uma Carteira Energética Sul-americana, que aumentam as possibilidades do estabelecimento de um controle pleno sobre a soberania e independência dos Estados e governos da América do Sul.

1.2- Paisagem energética sul-americana

A vinculação existente entre energia e integração regional pode se traduzir em oportunidades de cooperação, mas também em momentos de conflitos. Isto irá depender da forma como se darão as negociações entre os países vizinhos e dos interesses que estão em jogo. Para Leis (2007) o potencial de integração energética poderia ser viabilizado com políticas realistas e progressivas, que envolvam necessariamente atração e garantias ao investimento estrangeiro e cooperação entre os estados. Não é isto que vem ocorrendo na região, já que a política do continente interna e externa tem uma forte marca do oportunismo do curto prazo e da insegurança dos contratos, sendo estes, derivados da baixa qualidade da cultura política democrática.       
O aproveitamento dos recursos energéticos da América do Sul, depende parcialmente de processos de integração da infra-estrutura e economia. Para Herz (2004) o potencial da região inclui: gás argentino e boliviano para Chile; gás boliviano para Brasil; gás peruano e boliviano para exportação transcontinental de gás liquefeito; petróleo e gás venezuelano para Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile; biocombustiveis e hidroelétrica brasileira para vários paises sul-americanos e para outros continentes.
A partir de suas análises, Galvão (2007) considera que a eclosão da temática energética na agenda sul-americana não é algo novo no século 21. Pelo contrário, configura-se como mais um episódio do caminho integrativo latino-americano que, desde a década de 1970, tem procurado orientar-se através das oportunidades para o desenvolvimento nacional. Ao aceitarem os desafios surgidos com a valorização da temática energética no ambiente internacional, os países sul-americanos aproveitaram uma onda criadora e transformadora das relações internacionais.
A efervescência política e diplomática que marca os eventos atuais da América do Sul, como possibilidades advindas da força do petróleo e dos biocombustíveis, que culminaram na I Cúpula Energética Sul-americana e do Caribe [1], conduzem os internacionalistas a compreenderem as origens, motivações, idéias e decisões que compõem o quadro da política do poder regional (Galvão, 2007). Nesse sentido, trata-se de olhar para o passado e projetar a evolução do sistema de relações em que estão inseridos os países sul-americanos para melhor se entender o que vem adiante.
Os fatores energéticos como petróleo, gás natural e elementos radioativos só ganharam notoriedade e importância com a revolução tecnológica das décadas iniciais do século 20, fazendo parte de uma característica mais abrangente denominada “recursos naturais”.
No caso sul-americano os caminhos da integração energética, encontram varias opções para a sua consecução. Como discorre Galvão (2007) poderiam ser: regime energético comum, um complexo de segurança energética regional e uma comunidade energética sul-americana, mas que parecem ter sido esquecidos durante as negociações levadas a cabo na I Cúpula Energética Sul-americana e do Caribe, na qual, o presidente venezuelano expõe o seguinte argumento:

Tenemos que asegurar que nuestros países de Suramérica y del Caribe tengan energía segura y cercana por lo menos por este siglo, mientras tanto, debemos dedicar un gran esfuerzo científico y de investigación tecnológica, para asegurarle a nuestros descendientes un modelo energético racional, porque algún día el petróleo se va a acabar.
(Pronunciamento do presidente da Venezuela Hugo Chavez no Programa dominical Aló Presidente Nro. 282. Apud GALVÃO, 2007, p.18).

Assim, pode-se compreender que a I Cúpula Energética Sul-Americana e do Caribe, foi convocada para avaliar novas opções de potencializar a união regional e revisar os mecanismos multilaterais que têm sido criados para tal fim. Especificamente, se buscou aprofundar o multilateralismo energético. As linhas definidoras da I Cúpula energética foram: Integração de infra-estrutura energética, conformação de um bloco de poder sul-americano e tratamento das fontes energéticas regionais. Busca-se ainda a Extensão da agenda pela inclusão de outros temas como questão social e ideológica.
Criou-se, portanto, toda uma expectativa e uma série de discussões acerca da questão energética, sobretudo, em torno de dois vetores: a) vetor da competição e b) vetor da complementaridade.

Pavimentar os caminhos da união sul-americana é aproximar os espaços amazônico e pacífico por meio de medidas concretas e factíveis. É um esforço de entendimento do nexo que se estabelece entre a crescente demanda energética mundial, a tendência à securitização de alguns setores da sociedade, como ambiental e energético, e o processo de integração regional levado a cabo pelos países sul-americanos há varias décadas.                                                                      (GALVÃO, 2007, p.2)

            A possibilidade de se fortalecer os laços políticos e econômicos, por meio do setor energético, como considera Galvão (2007) está amparada ideologicamente em uma “solidariedade energética sul-americana” que perde ressonância quando equilibrada pelo socialismo do século 21” de Hugo Chavez. Logo, o panorama energético regional torna-se indefinido, a partir do momento que não se estabelecem vínculos de confiabilidade que pautem as relações internacionais sul-americanas.

2- A Política Energética Brasileira na América do Sul

No que se refere ao setor energético brasileiro, Galvão (2007) afirma que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, já que 35,9% são provenientes de fontes renováveis, destacando-se o setor hidrelétrico, como um dos maiores de todo o planeta. Soma-se a isso, suas dimensões, territorial, demográfica, econômica e política – o Brasil ocupa necessariamente um lugar central no processo de integração sul-americana. Pode-se notar diversas atitudes tomadas pelo governo brasileiro, que manifestam sua ação subimperialista neste território, estando em jogo, diversos interesses, sobretudo referentes ao setor energético.
 Além dos Complexos Energéticos Sub-regionais, a participação brasileira abre portas para se pensar em um Complexo de Segurança Energética do Atlântico Sul, incluindo países energéticos do continente africano, como Nigéria e Argélia, o que lançaria a América do Sul com um peso diferenciado nas relações internacionais (GALVÃO, 2007). O autor busca descrever a situação do Brasil diante da questão energética através da discussão de quatro vetores.
O primeiro se refere ao crescimento significativo das preocupações mundiais em torno do aquecimento global e a conseqüente necessidade de se reduzir as emissões de CO2, que estimulam a retomada de geração de eletricidade a partir de fontes limpas. Neste aspecto, o Brasil pode aproveitar seu potencial hidrelétrico e de outras fontes renováveis para liderar discussões em foros multilaterais e ampliar seu poder barganha internacionais.
O segundo vetor traz a seguinte abordagem: como se vive num mundo globalizado de grande competição econômica e de poderosas Empresas Transnacionais (ETNs), é fundamental como alicerce de qualquer política externa, fazer avançar seus interesses por meio da atuação destas empresas no contexto global. A Petrobrás, por exemplo, é vista por Galvão como um instrumento importante na arquitetura energética mundial.
O terceiro vetor mostra que o desenvolvimento mundial do biodiesel e a viabilidade de uso do álcool combustível criam uma demanda garantida que torna o Brasil um importante ator no mercado internacional de biocombustiveis. Tal posição tem sido consolidada cada vez mais ao encerrar importantes acordos regionais com seus vizinhos e também com os Estados Unidos e Japão. Vale lembrar que o Brasil concentra 36% da produção mundial de álcool combustível, à frente dos EUA, que detém 33% dos 42 bilhões de litros produzidos em 2005.
Em quarto lugar, o Brasil é favorecido pelo clima e pelo solo para o aumento da produção de bicombustíveis, especialmente os das oleaginosas. Neste aspecto existem divergências sobre os impactos ao meio-ambiente deste tipo de postura energética de ampliação dos espaços cultiváveis. Não obstante, vale ressaltar que, a crescente demanda por álcool no mercado mundial, devido a aspectos ambientais ou econômicos, representaria, por exemplo, um acréscimo de 5% na composição da gasolina usada em outros países, o que já seria suficiente, como aponta Pires (2006), para que a produção atual dobrasse nos próximos cinco anos, fazendo do Brasil uma “Arábia Saudita” do álcool no mundo.
Em quinto lugar, Galvão (2007) destaca que o Brasil pode se aproveitar da forte e quase infinita tendência mundial de crescimento da demanda por energéticos provenientes de fontes renováveis, para se tornar referência em conhecimento técnico especializado, podendo realizar acordos de cooperação tecnológica de alto nível.
Assim, a produção e a exportação de bicombustíveis, bem como o aprofundamento de pesquisas sobre novas fontes energéticas e a exploração de fontes renováveis, transformam-se em alicerce estratégico da política externa brasileira, devendo ser considerados pelo Itamaraty nos processos de negociação. Contudo, Galvão (2007) destaca, que ainda parece estar longe de se pensar no Brasil como uma potência energética mundial, sobretudo pela ausência de um interesse nacional claramente definido nisso. O esgotamento da matriz energética associada aos combustíveis fósseis traz duas questões, a busca por alternativas energéticas e a intensificação do domínio das fontes tradicionais de energia.
Historicamente, no Brasil, não existiu uma sinergia entre sociedade, formuladores de política energética, executores e negociadores políticos. No entanto, esta realidade parece estar sendo alterada, tanto no plano interno como no internacional. Os destinos da diplomacia brasileira parecem estar sendo modificados pelo dinamismo do setor energético, que vem se apresentando como fator impulsionador.
Percebe-se que o espaço público vem ganhando força nas discussões sobre as relações internacionais do Brasil e com isso a política externa passa a ser matéria da nação. O fato de os países sul-americanos terem criado certo descrédito acerca das idéias do Consenso de Washington e a tomada de consciência dos limites do paradigma neoliberal[2], fizeram com que os mesmos recuassem, visando propostas mais realistas e pragmáticas de inserção internacional.

A confluência dos planos geopolíticos e geoeconômicos, como definidores da nova ordem internacional, faz com que os recursos naturais sejam percebidos como força motriz da expansão da sociedade internacional. Não existe uma disjunção entre competição interestatal e capitalista, uma vez que as grandes empresas transnacionais do setor energético dependem fortemente de uma base nacional para a consecução dos seus interesses transnacionais. Aprofundam-se, portanto, os laços entre territorialidade e projeções globais de poder. Em suma, Brasil e América do Sul testemunham a energia como uma nova dimensão da segurança internacional que precisa fazer parte de seus cálculos estratégicos e da definição de linhas de ação internacional.  
                                                                           (GALVÃO, 2007,p.20).


Assim, percebe-se que diante dos atuais acontecimentos, torna-se necessário avaliar a atuação da política externa brasileira, revendo as prioridades instituídas pelo governo e pelo Itamaraty, tendo em vista, sobretudo, o fato de a América do Sul demonstrar-se como cenário propício para inserção internacional do Brasil.

3- Análise da realidade Brasil – Bolívia a partir do abastecimento de gás natural

Considerando as questões até aqui, analisadas, pode-se destacar a relação Brasil-Bolívia, como um caso particular da geopolítica brasileira assentada na questão energética.
       A atuação da Petrobras na Bolívia visou, uma integração do mercado de gás e petróleo nos países sul-americanos, conforme está previsto em seu plano de desenvolvimento estratégico. Foi instalada em 1995, entrou em funcionamento em meados de 2006 e em menos de 10 anos tornou-se a maior empresa do país, tendo grande participação PIB nacional, e na arrecadação total de impostos.

FIGURA 1. Mapa do gasoduto Brasil- Bolívia ( Gasbol)
Fonte: http://www.petrobras.com.br/atuaçãointernacional acesso 24 de julho de 2006.

A construção do Gasbol (gasoduto Brasil-Bolivia) foi um marco importante no processo de aproximação entre estes dois países. De acordo com Vogt (2001) através do Gasbol, o Brasil recebe grande quantidade de gás natural da Bolívia, que corresponde a cerca de 51% do total utilizado. A figura 01 ilustrada acima, mostra os locais por onde passa o gasoduto Brasil-Bolívia e os locais no Brasil para onde esse gás é distribuído.
A ênfase no gás natural se deu pelo fato de a Bolívia possuir grandes reservas e por ser um recurso que o Brasil necessita e ainda não produz em quantidade suficiente para o abastecimento de todo o país.
Em maio de 2006, Evo Morales anunciou a nacionalização de hidrocarbonetos, na busca de alcançar uma série de benefícios para o país, como destaca Borges (2006): a preservação da estabilidade macroeconômica, obtenção de apoio de Hugo Chávez e Fidel Castro graças às estatizações, a viabilização da assinatura de um pacto socialista de comércio e cooperação regional, além do aumento na arrecadação total de impostos sobre a exploração e produção dos hidrocarbonetos de 50% para 82%.
Contudo, Borges (2006) destaca que, há especulações de que tal nacionalização poderia trazer também conseqüências negativas para a Bolívia, pois certamente, haveria possibilidade de oposição dos governos dos EUA e de outros países que possuem empresas em seu território; bem como o Término das discussões sobre a formação da comunidade andina das nações; dificuldades do país em gerir a produção do petróleo e sanções econômicas à Bolívia por parte dos países que exploram petróleo no local.
Embora por diversas vezes, Evo Morales, tenha tomado medidas que iriam contra os discursos feitos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a nacionalização, que culminou na saída da Petrobras daquele país, não chegou a provocar uma “crise” concreta entre Brasil e Bolívia. O que  houve foram desavenças que puderam ser resolvidas levando em conta uma ação diplomática que não comprometesse a política externa brasileira na América do Sul.
Contudo, é inegável que a Petrobras não saiu bem sucedida nesta história, pelo menos na opinião pública boliviana. Surgiram diversas especulações de que suas ações naquele país estavam baseadas na obtenção de lucros ilícitos, sendo que, tal questão, jamais foi comprovada. O que se sabe ao certo é que os lucros, na verdade eram extraordinários, porém é também considerável o fato de a Petrobras ter inovado tecnologicamente o setor de exploração e produção de hidrocarbonetos, lhes dando uma dinâmica jamais vista, sobretudo porque até então, eram obsoletos e pouco operantes.
A partir das medidas, pode-se dizer que o governo boliviano acelerou as complexas negociações para assumir o controle de duas refinarias da Petrobras, por US$ 70 milhões, menos da metade dos US$ 160 milhões solicitados pela empresa brasileira[3]. As refinarias em questão são Gualberto Villarroel, de Cochabamba, e Guillermo Elder, de Santa Cruz. Para Lopes (2007)[4], estas duas refinarias acabaram sendo compradas pelo governo boliviano, no dia 11 de maio de 2007 por US$ 112 milhões.
             De acordo com a Petrobras[5], durante a sua gestão nas unidades na Bolívia, os investimentos "otimizaram os processos" e permitiram o aumento de capacidade das refinarias.
Para o Ministério das Relações Exteriores, as decisões unilaterais da Bolívia sobre o monopólio na exportação de petróleo e gasolina, que afetam a Petrobras, poderiam causar um “impacto negativo na cooperação entre os dois países”. No entanto, a situação veio se normalizando. De acordo com Oliveira (2008) o governo brasileiro não possui atualmente nenhuma queixa em relação à Bolívia, que vem sempre cumprindo o contrato assinado com a Petrobras , que prevê a entrega de cerca de 30 milhões de metros cúbicos diários de gás natural até 2019.
O Brasil dispõe de capital e tecnologia, globalmente competitivos em todos os setores ligados à indústria petrolífera e possui atualmente grandes perspectivas em relação a oferta de gás natural na bacia de Santos e a prevista com a exploração do pré-sal[6], no entanto ainda há um grande interesse em continuar importando o Gás boliviano, sobretudo, por este, ser considerado “um bom negócio”.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que é imprescindível considerar a integração energética sul-americana como uma necessidade geopolítica frente ao cenário internacional e o Brasil, como um possível condutor neste processo, através da atuação internacional da Petrobras que tem ampliado, de forma muito rápida a sua atuação neste sub-continente.
A Energia é um fator de grande importância frente ao cenário econômico mundial. É um recurso que movimenta a economia e gera conflitos, podendo ser um fator de aproximação ou então de atrito nas negociações entre os países, como foi o caso da relação Brasil-Bolívia, frente ao nacionalismo implementado no governo de Evo Morales.
Deve-se atentar para o fato de que há uma necessidade de se superar a grande heterogeneidade de interesses entre os países sul americanos, visto que contribui para a diminuição do grau de aprofundamento da integração.
Pode-se dizer que as origens e atualizações da questão energética, na região, apontam para uma valorização e resgate do acúmulo histórico como parte de um quadro explicativo sobre o presente. A conformação de uma verdadeira comunidade de nações da América do Sul, que seja símbolo de liberdade e glória, parece refletir cada vez mais a extensão territorial do subcontinente e as riquezas nele presentes.

REFERENCIAS

 BORGES, Altamiro. A América Latina pende à esquerda? Revista Espaço acadêmico- n° 56- Janeiro/2006- Mensal- ISSN 1519.6186. Ano V. Disponível em acesso dia 12 de junho de 2006.

CÂMARA. Marcelo Argenta. Bolívia: de 1952 ao século XXI: Processos sociais, Transformações políticas. In Bolívia: De 1952 ao século XXI/ Brasília: Fundação Alexandre Gusmão; Instituto de Pesquisa de Relações internacionais, 2007.p.156 ( coleção América do Sul)

CEDIB. Série Informativa: Datos sobre la gestión de los recursos naturales, n.3- Tierra y Territorio. Cochabamba, Bolívia: CEDIB, 2005. apud Câmara (2006, p.68)

CERVO, Amado Luiz. Globalização, integração e Estado Nacional no mundo contemporâneo. Trabalho apresentado no 1o Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI, entre os dias 25 e 27 de julho de 2007, na cidade de Brasília.

GALVÃO. Thiago Gehre. Brasil, Venezuela e a Questão energética na América do Sul.Trabalho apresentado no 1o Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI, entre os dias 25 e 27 de julho de 2007, na cidade de Brasília.

HERZ, M. (2004) “Regionalismo e Segurança Regional: perspectivas analíticas”.Documento de Trabalho, Brasília, n. 4.

LEIS, Héctor Ricardo. Brasil e Argentina no MERCOSUL: Entraves e conflitos para a integração. Trabalho apresentado no 1o Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI, entre os dias 25 e 27 de julho de 2007, na cidade de Brasília.

LOPES, Roberta. O preço recebido por refinaria na Bolívia é justo.Agência Brasil.2007. Disponível em< http://www.agenciabrasil.gov.br/listagem-grandes-reportagens> acesso dia 28 e junho de 2007, às 15:42.

OLIVEIRA, Nielmar. Abastecimento de gás natural vindo da Bolívia . Disponível em   acesso em  fevereiro de 2009.

PEIXOTO, Flávia. Cúpula Energética sul-Americana. 2007 Disponível em    acesso dia 15 de agosto de 2007.

ROCHA. Maurício Santoro. A outra volta do Bumerangue: estado, movimentos sociais e recursos naturais na Bolívia (1952-2006). in Bolívia: De 1952 ao século XXI/ Brasília: Fundação Alexandre Gusmão; Instituto de Pesquisa de Relações internacionais, 2006. ( coleção América do Sul)

SEGABINAZZI. Alessandro. Bolívia: de 1952 ao século XXI diversas sínteses de uma Revolução.in Bolívia: De 1952 ao século XXI/ Brasília: Fundação Alexandre Gusmão; Instituto de Pesquisa de Relações internacionais, 2007.p.156 (coleção América do Sul)

VOGT, Carlos. Termelétricas receberão grandes investimentos. SBPC: 2001. Disponível em   acesso dia 7 de agosto de 2007.




* Pós–Graduanda em Ensino de Geografia e Licenciada em Geografia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Campos dos Goytacazes/RJ- IFF, bacharel em Serviço social pela Universidade Federal Fluminense – UFF, professora de geografia na rede municipal de ensino de São Francisco de Itabapoana – RJ. E-mail: luanerubim@yahoo.com.br
** Pós – Graduando em Ensino de Geografia e Licenciado em Geografia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Campos dos Goytacazes/RJ- IFF, professor na rede privada de ensino em Campos dos Goytacazes – RJ. E-mail: diegomorett_7@hotmail.com
[1]A I Cúpula Energética Sul-americana e do Caribe ocorreu na  Ilha de Margarita na Venezuela entre os dias 16 e 18 de abril de 2007.Buscava-se tratar da questão energética no que se refere ao comércio e abastecimento entre os países vizinhos, no sentido de criar estratégias de cooperação mútua entre os mesmos, e traçar planos de projetos comuns. Um dos resultados obtidos foi a criação de um escritório permanente em Quito, no PEIXOTO, Flávia. Cúpula Energética sul-Americana começa com parceria entre Brasil e Venezuela.2007 Disponível em    acesso dia 15 de agosto de 2007 às 21:56.

[2] Parte-se do pressuposto de que o neoliberalismo é um sistema econômico que prega a intervenção mínima do Estado na economia, deixando o mercado se auto-regular com total liberdade. O mercado é quem dita as regras e conduz a produção. Este tipo de pensamento pode ser representado pela privatização e pelo livre comércio. Informação disponível em acesso em outubro de 2007.
[3]Informação coletada na Gaceta Oficial de Bolivia, Ministério de La Presidencia.
[4] Repórter da Agência Brasil
[5] Atuação Internacional da Petrobras:
disponível em: http://petrobras.com.br/espaçoconhecer  Acesso no dia 23 de junho de 2006.
[6] A Chamada camada pré-sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, e engloba três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos). O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal, segundo geólogos, conservam a qualidade do petróleo.Vários campos e poços de petróleo já foram descobertos no pré-sal, entre eles o Tupi, o principal. Há também os nomeados Guará, Bem-te-vi, carioca, Júpter e Iara, entre outros. Informação disponível em   acesso dia 16 de fevereiro de 2009.

Nenhum comentário: